Mariz e Barros: a morte antes da invasão do Paraguai

O ponto escolhido para a invasão do Paraguai, pelas forças expedicionárias brasileiras, uruguaias e argentinas, foi a jusante do rio Paraná, perto do forte Itapiru, uma das muitas praças fortes que perlongavam as margens daquele rio e que serviam de defesa ao Paraguai. Ali, mais que nunca, ficou patenteada a importância da infantaria, pois que os navios da esquadra imperial martelavam e desmontavam as obras vivas daquela fotificação e o tremendo esforço das forças inimigas as resconstruía.

Na corte e principalmente no Congresso Imperial, cobrava-se o que se chamou de “a inação da esquadra”. Criticavam-na a mil quilômetros de distância, sem levar em conta que a maioria dos navios era de madeira e que os canhões de qualquer um daqueles fortes os destroçariam, tendo em vista a ínfima largura do rio. Foi aí que os estaleiros navais do Rio de Janeiro começaram a construir os navios encouraçados.

A entrada em serviço desses navios, mudou a filosofia de combate com os fortes paraguaios. Os comandantes desses monstros coiraçados só atiravam bem de perto e os tiros dos inimigos faziam apenas mossas nas superblindagens dos navios.

O encouraçado Tamandaré, após ser lançado às águas, recebeu como comandante um jovem tenente: Antônio Carlos de Mariz e Barros. Jovem na idade, porém veterano guerreiro, pois na tomada de Paisandu, combatendo a pé, cobriu-se de glórias e ferimentos. De tão feroz em combate, Mariz e Barros recebeu dos companheiros o apelido de Leão. Ali, lutou ombro a ombro, com outro expoente máximo da Marinha: Marcílio Dias, o Hércules, pois com as mãos limpas arrebentava com os inimigos. Marcílio, após os combates, referindo-se a Mariz e Barros dizia: “O diabo do rapas é um demônio”.

Foi no mês de março de 1866, que começou a guerra das Chatas, o engenho flutuante mais mortífero inventado pela Marinha Paraguaia.

Eram de madeira, sem velas ou motores desciam ao sabor da corrente, armadas com rodízio 68mm, atirando rente as águas, atingiam os grandes navios na linha de flutuação, muitas vezes metendo-os a pique. Eram dificilmente atingidas e foi no auge dessa guerra, que começou a saga do heróico Mariz e Barros.

O paquete Cisne, levando a bordo o Barão do Amazonas, o Marquês de Herval e seus respectivos estados maiores, os generais Mitre e Flores, escoltado pelo encouraçado Tamandaré (tenente Maris e Barros), a canhoneira Henrique Martins (tenente Jerônimo Gonçalves) e o aviso Lindoia (tenente Antônio Joaquim), subiam o rio Paraná. Era dia 25 de março, dia de festa Nacional, pois, se comemorava o juramento da Constituição brasileira.

O almirante Tamandaré a bordo do Cisne seria o anfitrião, pois, além da comemoração da data, seria decidido o dia D, ou seja, da invasão do Paraguaia.

Os comensais já haviam saboreado um coquetel de frutas tropicais e se deliciado com a entrada, que consistia de filé de linguado assado na brasa e o general Mitre, presidente da Argentina e comandante-chefe, acabara de saborear e aprovar o capitoso vinho branco, quando o Cisne foi sacudido, atingido que fora, por um rodízio de tiros efetuados por uma chata, que se intrometera entre a escolta.

O encouraçado Tamandaré, com um tiro feliz no paiol de munições de uma das chatas, a explodiu. A canhoneira Henrique Martins enquadrou a segunda chata, fazendo-a encalhar nas margens do rio.

Desse almoço saiu a data da invasão. Seria o dia 16 de abril de 1866. A partir daquele momento a esquadra bombardearia, dia e noite, Itapiru.

Dia 27 de março, os encouraçados Tamandaré e Bahia tomaram posição e, às 10 horas da manhã, começaram a martelar impiedosamente o baluarte, não sem receber em troca tiros em suas blindagens. O bombardeio ininterrupto durou seis horas. às 16 horas, os navios que continuaram o bombardeiro noturno chegaram para render os encouraçados.

Os dois navios já retornavam para o remuniciamento, e retornarem às 22 horas, quando due-se o inopinado. Um feliz petardo paraguaio acertou em cheio uma portinhola – guarnecida por uma pesada cortina de correntes – de acesso à casamata de comando do encouraçado Tamandaré.

A tragédia foi dantesca! Morreram, instantaneamente, o imediato, primeiro-tenente Francisco Antônio Vassimom, o comissário, segundo-tenente Carlos Acioli de Vasconcelos, o tenente-escrivão Augusto de Barros Alpoin e dez marinheiros. Mortalmente feridos, o comandante, primeiro-tenente Antônio Carlos Mariz e Barros, e o primeiro-tenente José Inácio da Silveira e, gravemente, os segundos-tenentes José Vitor Delamare e Dionísio Malhães Barreto, o guarda-marinha de Luíz de Tourinho, o mestre do navio e mais de 17 marinheiros.

O tenente Malhães de Barreto, sangrando abundantemente, assumiu o comando do navio e o levou ao ancoradouro.

Foi nas horas que antecederam a morte de Mariz e Barros que os circunstantes receberam as maiores liçoes de heroísmo e abnegação, desprendimento e coragem do jovem tenente morimbundo.

Presente estava o almirante, além da equipe médica chefiada pelo cirurgião dr. Carlos Frederico dos Santos Chavier Azevedo, que tentou recondicionar a perna esquerda do padecente, separada da coxa pela articulação, distendidos e rotos tendões e nervos, presos aos tecidos ósseos dos côndilos do fêmur. Mariz e Barros não podia ser cloroformizado, tendo em vista que os graves ferimentos recebidos no combate de Paissandu não o permitiam.

Ele, Mariz e Barros, que não fumava, pediu um charuto para mordê-lo, enquanto o médico amputava-lhe a perna, a sangue frio.

Antecipando o seu desenlace, entre dores atrozes, disse ao almirante: -Senhor! Mande dizer ao meu pai que sempre soube honrar o seu nome!

Mariz e Barros nasceu no Rio de Janeiro a 7 de março de 1835, filho do almirante José Joaquim Inácio e de dona Rosa de Mariz e Barros – neta do povoador do sertão fluminense Dom Antônio de Mariz. Em 1849, foi declarado aspirante e primeiro-tenente em 1857. Comandou os seguintes navios de guerra: o iate Paraibano, a canhoneira Campisa, as corvetas Belmonte e Recife e, por último, o encouraçado Tamandaré, morrendo em comando. Foi condecorado, em vida, com o Hábito da Imperial Ordem da Rosa e com a Cruz de Cavaleiro da Legião de Honra.

Na madrugada do dia 28 de março Mariz e Barros morria.

Mas antes de ser travessa Mariz e Barros, foi da Estrela, isso por que o povo quis.

A proposta dos vogais da intendência de Belém, assinada por Virgílio de Mendonça, Fortunato Alves de Souza Júnior, José M. C. Macedo, JOsé Antônio, Virgílio Sampaio e Sabino Henrique da Luz, autorizando a Intendência, a abrir, em 1893, as ruas do Marco da Légua, e que ao mesmo tempo, nominava-as, escolhendo para essa travessa o nome de Estero Bellaco – combate onde Osório cobriu-se de glórias – e que o povo em sua imensa e abissal sabedoria, trocou para da Estrela.

A travessa Mariz e Barros começa na rua do Acampamento, envereda pela Pedreira e termina na passagem Acatauassu Nunes, no Marco da Légua.

Fonte: Valente, José Duarte – A hitória nas ruas de Belém: Marco e Pedreira: CEJUP, 1993, págs: 11/15.

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Ps.: Mesmo que tardia, uma singela homenagem ao filósofo Benedito Nunes, que, aqui, na foto abaixo, preparava-se para degustar umas das delícias do restaurante TERRA DO MEIO:

Benedito no Terra do Meio

Sobre Lafayette

Xipaia... o último dos guerreiros!
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9 respostas para Mariz e Barros: a morte antes da invasão do Paraguai

  1. Airton Campbel disse:

    Muito me dói quando ouço o sr Pedro Bial chamar os participantes do BBB de heróis e aí então eu me pergunto: Mariz e Barros foi o que ?

  2. Parabens ! pelo brilhante relato… da guerra do paraguay

    O Ten. Vassimon imediato de Mariz e barros é meu ( tio tataravô) era um oficial muito difícil e rebelde, e cresci escutando os relatos desta passagem da guerra do paraguay pois estes imediatos formavam a trindade irmanada do Comandante Mariz e barros

    tenho muitas histórias deste tempo que meu avô me contou e recortes de jornal

    qq coisa entrem em contato 21-24177434

    abraços

    CMT Paulo Eduardo Vassimon Siqueira
    Coord. geral de op.
    Patrulha Civil Resgate

    • GERSON disse:

      Vassimon, conte suas histórias e publique os recortes de jornal.Precisamos honrar nossos heróis.

    • Alaides disse:

      oi, tudo bem? Aqui é da escola Mariz e Barros, em Porto Alegre, RS, gostaríamos de entrar em contato com vossa senhoria.
      Estamos homenageando a escola que fará aniversário dia 4 de outubro e também seu tio tataravô, descrevendo sua história.
      Meu email alaides_saojudas@hotmail.com, será gratificante seu contato.
      Desde já, agradeço sua colaboração.
      Alaides.

    • Antonio Mesquita disse:

      Cmt, escreva para que não fique em olvido histórias orais para a posteridade.

    • Leonardo Kämpffe disse:

      Bom dia Comte! Sou aspirante da Escola Naval e tenho muito interesse no que o Sr. tem a passar pois estou escrevendo um artigo sobre Mariz e Barros. Caso o Sr ainda tenha as informações, poderia entrar em contato?
      kampffe97@gmail.com
      (21) 9 8684-8338
      Grato desde já,
      Leonardo Kämpffe

  3. Carolina Barros disse:

    estou fazendo um trabalho escolar para minha filha e gostaria de saber sobre a procedência do nome de minha rua : Tv. magno de araujo.
    Ficarei grata aguardando resposta

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